domingo, 20 de fevereiro de 2011

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'Capítulo Quinto – A esperança é amarela'

— Ora, vamos! Mais depressa! Depressa que elas são rápidas! Danadinhas que me escapam a alma!
E numa cegueira incômoda, vendo o que eu não via, eu podia sentir uma presença amarela, e por um instante a vara parecia ter virado meu braço já que eu esboçava uma bravura sem tamanho. Meu braço parecia flutuar no ar procurando capturar a borboleta como se aquilo de fato, fosse decidir uma vida.
Ouvi um barulho como se um grande ventilador tivesse sido acionado no mundo. Um burburinho que começou lento, mas a pronto estava insuportavelmente inaudível, de tão alto.
— Minha nossa! Quantas!
Com dificuldade ouvi a voz dela que anunciava o enxame que se apoderaria de mim. E o tom de voz podia revelar que era tão mágico ou assustador ver aquilo acontecer que seu corpo todo se prostrou no silêncio. Foram segundos até que de um risco amarelo no breu, eu passasse a ver amarelidão.
As milhares de asas que batiam vindas do ventilador barulhento lá de cima batiam a minha volta, pelos cabelos, ouvidos, narinas, e pernas... Meu braço já não tinha o poderio de dominar ninguém. Eu seria tomada.
Vertigem... Ouvi o silêncio do barulho mais insuportável e doce que nunca poderia decifrar. As borboletas amarelas estavam entrando em mim: por todos os meus orifícios, pele adentro, dentro do meu corpo. Eu podia me sentir cheia daquelas coisas mexendo dentro de mim, como se minha carne estivesse viva. Já não pensava em mais nada. Eu apenas sentia.
Me sentia repleta, cheia, como se tivesse acabado de fazer uma refeição interior. Parecia renascer, parecia tomar outro corpo, entregar-me a...
Eu estava deitada, no fundo. No fundo do poço.
Quanto a outra Mim, eu não saberia falar. Podia sentir o fundo do meu corpo encostar no fundo do poço. E meu corpo estava novo. Inteiriçamente repleto, cheio... Eu estava lotada de borboletas por dentro e podia sentir elas se movendo, verdadeiramente, dando-me vida. Eu tinha me feito esperança. Ainda que nada visse, eu poderia acreditar no depois.
O burburinho ia se acalmando, e algumas borboletas, eu ainda podia vê-las riscando de amarelo um breu calado. Mas tudo estava bem. Foi como se o fundo do poço fosse o meu renascimento...

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